Sinônimo de delicadeza, leveza e formosura, a Natureza legou ao beija-flor características que o fazem viver a mil por hora. De leve não tem nada a vida dessa ave… Conhecida também como colibri, guainumbi, guaraciaba, entre outras designações, é a menor ave do mundo, mas o animal com o maior coração em proporção ao tamanho do corpo e o que tem a mais alta frequência cardíaca. Já foram registradas frequências cardíacas de até 1260 batimentos por minuto. Mesmo parado, seu batimento chega a 260 por minuto. Pesquisas apontam que o coração do colibri movimenta sangue 100 vezes mais rápido do que o do homem.

Foto: Roy Berger

Além disso, eles têm a mais alta taxa metabólica entre todos os animais na Terra, com exceção dos insetos, o que os faz necessitar de alimentação constante durante o dia – de 10-15 em 10-15 minutos. Chegam a visitar mais de 2 mil flores por dia em busca de néctar: uma overdose de açúcar, equivalente a um ser humano ingerir 5 kg de açúcar por dia. Se não fosse assim, com uma taxa metabólica tão alta, passar muitas horas sem comer, por exemplo, num sono mais longo, poderia ser fatal. Como a Natureza não falha, há solução para isso: à noite, quando não estão se alimentando, e em dias frios, entram em estado de torpor, desacelerando-se a respiração e a frequência cardíaca, e diminuindo drasticamente a temperatura do corpo para a conservação de energia. Numa noite muito fria, o metabolismo do beija-flor pode ficar até 95% mais lento.

Soma-se a isso a energia que gastam em seus voos frenéticos e a necessidade maior de manterem a temperatura do corpo por terem escassa massa corporal. Tomam demorados banhos de sol para a termo regulação da temperatura de seus corpos e para compensar a excessiva perda de energia decorrente dessa escassa massa corporal.

Para conseguir visitar até 2 mil flores por dia, o pobre do beija-flor precisa voar sem parar, normalmente 48km/h, podendo chegar a 80 km por hora. Sem falar nas batidas das asas – de 60 a 80 vezes por segundo em voos normais e até 200 vezes por segundo em fugas, perseguições ou fazendo a corte à fêmea em mergulhos acrobáticos. Realiza movimentos em seus voos que nenhuma outra ave é capaz de fazer: seu esqueleto e músculos lhe permitem girar suas asas quase 180 graus, o que o torna capaz de voos para frente, para trás, para cima, para baixo, para o lado, de cabeça para baixo, além de conseguir permanecer imóvel no ar enquanto se alimenta do néctar. Não é à-toa que projetistas de robôs voadores almejam replicar o voo do beija-flor…

Fonte: What Boundaries Travel

A necessidade crucial de se alimentar com uma frequência muito alta leva a que os colibris sejam extremamente territoriais, bélicos, agressivos – o oposto da imagem que se tem ao vê-los “beijando” as flores… Os astecas já sabiam disso, tanto que seu Deus da Guerra era um beija-flor…

O belicismo dos beija-flores. Fonte: The New York Times

Tanto o macho como a fêmea são briguentos e valentes, não se deixando intimidar nem por aves bem maiores na disputa por comida e território.

No que diz respeito à relação entre macho e fêmea, os machos batalham bastante para conquistarem sua dama. Apresentam-se vários pretendentes, ela escolhe o que mais lhe atrai, mas, depois da cópula, segue em frente para construir o ninho e criar seus filhotes, sem nenhuma participação do genitor… A maioria das fêmeas choca dois ovos, que são incubados por 15 a 18 dias. Os jovens beija-flores deixam o ninho 18 a 28 dias depois de nascer.

Filhote sendo alimentado. Foto: @mehta.vishal.360

De acordo com o IOC World Bird List, há 355 espécies de colibris: 132 encontradas no Equador, 147 na Colômbia e 81 no Brasil. Segundo Vitor Piacentini, co-autor de Beija-flores do Brasil, o município do Rio de Janeiro lidera com pelo menos 30 espécies, graças à diversidade de ambientes, da restinga às florestas dos maciços da Tijuca e da Pedra Branca. Mas ele crê que o lugar mais rico do Brasil talvez seja a pouco conhecida Serra da Mocidade, em Roraima, que começou a ser estudada recentemente e já tem 30 espécies.

Seguem algumas das flores adoradas pelos beija-flores:

 Nome botânico

Agapanthus africanus

Nome popular

Agapanto

Abutilon megapotamicum Lanterninha-chinesa
Asystasia gangetica Asistásia
Aphelandra squarrosa Afelandra
Beloperone guttata Camarão-vermelho
Bauhinia forficata Pata-de-vaca
Calliandra tweedii Esponjinha
Canna indica Birí
Duranta repens Violeteira
Erythrina speciosa Mulungu-do-litoral
Grevíllea banksii Grevílea-anã
Hibiscus rosa-sinensis Hibisco
Lonicera japonica Madressilva
Malvaviscus arboreus Hibisco-colibri
Pachystachys lutea Camarão-amarelo
Plumbago auriculata Bela-emília
Podranea ricasoliana Sete-léguas
Russelia equisetiformis Flor-de-coral
Salvia splendens Sálvia
Sanchezia nobilis Sanquésia
Odontonema strictum Odontonema
Barleria repens Barléria-vermelha
Justicia floribunda Farroupilha
Megaskepasma erythrochlamys Justícia-vermelha
Ruellia chartacea Ruélia-vermelha
Ruellia coerulea Ruélia-azul
Ruellia elegans Ruélia-vermelha
Quisqualis indica Jasmim-da-índia
Camptosema grandiflorum Cuitelo

 

Quanto à longevidade dos beija-flores, sabe-se que eles envelhecem 10 vezes mais rápido do que os seres humanos. Tende a ocorrer um alto número de ataques cardíacos e infartos entre eles – pudera, com o ritmo frenético de suas vidas… Não há lugar para a preguiça na vida de um beija-flor – se ele desacelerar, ele morre. Haja néctar, insetos ou mesmo garrafinhas com água açucarada para adoçar o batente dessa ave ao mesmo tempo doce, leve, bela e guerreadora…