Desde que iniciei minha carreira como paisagista, ouço que lugares bem cuidados, arborizados e com jardins diminuem a violência. E eu, particularmente, acredito que o paisagismo e a arquitetura têm um papel fundamental na relação da cidade com o indivíduo. Um ótimo exemplo é a transformação de um minhocão abandonado em um belo jardim suspenso, nos EUA, conhecido como High Line.

O contato com a natureza estimula a conexão do ser humano com ele mesmo e gera sensações positivas. Espaços com plantas provocam boas emoções e podem alterar os estados mentais. Uma pesquisa realizada na Universidade de Temple, nos Estados Unidos, mostra que as áreas verdes provocam um efeito calmante e mentalmente restaurador, o que pode inibir comportamentos violentos.

De acordo com o estudo, mais do que ajudar a relaxar, embelezar as cidades e melhorar a qualidade do ar, as árvores, arbustos e parques com vegetação bem cuidada podem ser grandes aliados contra a criminalidade. Nas grandes cidades ajudam a diminuir os índices de furto, roubo e agressão. A vegetação em espaços públicos estimula também a interação social e a supervisão maior da própria comunidade.

Outro estudo da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, mostrou que cidades bem arborizadas fortalecem as comunidades e reduzem a violência doméstica. Revelou também que as crianças se sentem mais seguras para brincar nas ruas e, assim, ficam menos tempo diante do videogame. E ainda afirma que as florestas urbanas são tão importantes e necessárias como ruas, esgotos e eletricidade em uma cidade.

Exemplo de cidade arborizada, diminuindo o impacto árido das grandes construções
(Fonte: Google imagens)

Eu tive uma experiência interessante nesse sentido. Em 2000, fiz um jardim dentro da favela na Praia Grande, conhecida como México 70. Era uma das favelas mais conhecidas na época! Estava sendo toda reurbanizada. Para viabilizar a implantação, usei a mão de obra local e deu supercerto. As pessoas selecionadas para fazerem parte da equipe de jardinagem foram treinadas por mim. Para a comunidade local dei uma palestra sobre como respeitar o espaço público e o que fazer com o lixo. Apesar de ter sido uma tarefa nada fácil, foi prazerosa. O local árido foi transformado e trouxe mais qualidade de vida para os moradores. Eles passaram a cuidar do espaço porque, em geral, as pessoas criam um vínculo afetivo com aquilo que elas mesmas produzem.

MAIS SEGURANÇA

Em uma entrevista para AUE Soluções, o Cel Roberson Bondaruk, autor do livro A Prevenção do Crime através da arquitetura urbana, fala que o paisagismo é fundamental para os espaços urbanos, porque os tornam mais agradáveis, saudáveis e bem aproveitados pela comunidade. E espaço urbano mais bem utilizado pela comunidade é sinônimo de espaço urbano mais seguro.

O coronel ressalta que as praças apenas com campos gramados são monótonas e pouco frequentadas. Resultado: são mal utilizadas ou depredadas. E ainda revela dados importantes. “Em uma pesquisa, 71% dos criminosos entrevistados afirmaram preferir assaltar casas cercadas por muros, pois segundo eles podem se aproximar sem serem vistos. Depois que estão dentro da residência, conseguem agir com mais tranquilidade já que vizinhos e passantes não podem ver o que acontece”.

Na entrevista, ele destaca também detalhes importantes na hora de fazer um projeto de paisagismo e arquitetura:

  • As árvores e construções devem estar em harmonia com a iluminação para não criar sombras e locais de emboscada.
  • As áreas verdes precisam de boa manutenção para que o crescimento excessivo das árvores e plantas não gere sombras e locais de esconderijo ou passe imagem de decadência urbana.
  • As árvores devem ter galhos baixos com cerca de dois metros de altura e os arbustos precisam ser aparados e ficar com 1 metro de altura para melhorar a visibilidade no local.

BOAS ESCOLHAS

Ao criar e provocar emoções e sensações, o paisagismo transforma o comportamento de cada indivíduo. O efeito das árvores em uma cidade diminui o stress e cria pessoas mais gentis.

Compare um bairro arborizado e um árido. Em que local você se sente melhor? Certamente no arborizado, por isso acredito que se plantarmos mais árvores e criarmos mais espaços públicos com vegetações despertaremos melhores sensações e emoções. E isso pode diminuir a violência.

Uma boa ideia é usar plantas que exalam perfume nos jardins. Em seu livro Os olhos da pele – a arquitetura e os sentidos, Juhani Pallasmaa diz que a memória mais persistente de um espaço é, na maioria das vezes, o cheiro.

Outro jardim que podemos fazer é o sensorial com plantas de diferentes cores, texturas, odores e sabores, como as frutíferas e as ervas aromáticas, que despertam sentimentos positivos.

Por essas e muitas outras razões, que tal pensarmos cada vez mais no paisagismo como uma forma de tornar as cidades mais humanizadas e seguras?