A palhinha indiana é um material natural muito em voga no mundo da arquitetura e decoração. Apesar de voltar a ficar em alta nas duas últimas décadas, a técnica artesanal de tear o rattan é milenar e conta com uma história muito rica e curiosa.

Como a palhinha ganhou o mundo

Os primeiros registros do uso da palha indiana em móveis que temos conhecimento remonta longínquos 1323 a.C., em uma cama de palhinha encontrada no túmulo do faraó egípcio Tutancâmon.

A arte da tecelagem consiste em trançar as hastes de rattan do grupo Calamus Rotang, um tipo de palmeira originária do sudeste asiático, Oceania e África. Com as navegações e o traçado de rotas comerciais entre Ásia e Europa, surgem as primeiras aparições do rattan na Holanda, Inglaterra e França.

A partir daí, a palhinha indiana caiu nas graças dos europeus com a criação da Cadeira Thonet em 1859. Utilizando a técnica oriental milenar, o alemão Michael Thonet apresentou em Viena uma cadeira desmontável, empilhável, com o encosto em madeira e o assento em palhinha. Por conta de sua popularização em bistrôs de Viena e também parisienses, ganhou o apelido de “cadeira bistrô“, e até hoje a empresa de Thonet, a Gebrüder Thonet Vienna, é referência no uso da palha indiana em peças inovadoras de mobiliário.

A cadeira Thonet foi a escolha do escritório Panaggio Arquitetura para dar um toque vintage e leve à sala de jantar do apê. Foto: Denilson Machado / Divulgação

Mas foi no Brasil que a palhinha realmente teve seu potencial explorado ao máximo na arquitetura e decoração. A técnica chegou por aqui no século 17, durante o período colonial, junto com os muitos veludos e algodão dos europeus. Logo se percebeu que o rattan era um material que combinava muito mais com o clima tropical do país: leve, transpirável e fresco, e daí a “tropicalização” do material.

Com o modernismo brasileiro do século 20, a palhinha indiana começou a ser usada mais amplamente por arquitetos e designers como um verdadeiro elemento nacional. Sua fase de ouro se deu em 1950, e até hoje ocupa seu lugar de prestígio em casas e apartamentos por apresentar inúmeras vantagens: permite a circulação de ar, combate a umidade, é elegante, funcional, leve, bastante resistente, delicada e versátil.

No buffet, palhinha indiana traz leveza e um ar tropical ao projeto do A+G Arquitetura. Foto: Luiza Schreier / Divulgação

O trabalho artesanal por trás do móvel de rattan

O processo de produção de um móvel de rattan (popularmente conhecido como “palha indiana”) passa pelas seguintes etapas: colheita, tratamento, tecelagem, acabamento e montagem.

Na primeira etapa, os caules maduros de rattan são colhidos das palmeiras do grupo de Calamus ou plantas Rattan. As palhas utilizadas na arquitetura e decoração de interiores são as trepadeiras, já que apresentam hastes mais longas e propícias para a tecelagem. Depois, essas “fibras” naturais colhidas são processadas para remover a casca externa dura e fibrosa. Isso deixa o núcleo interno flexível e pronto para uso.

Uma vez com o material pronto, ocorre a moldagem e tecelagem artesanal. O rattan é conhecido por sua maleabilidade, o que permite com que os artesãos dobrem e modelem os caules das mais diversas maneiras. Após a criação dessa estrutura, o rattan pode ser tratado com diversos tipos de acabamento, como polimento, coloração e aplicação de verniz ou selante para prolongar sua vida útil, e voilà: temos uma peça única feita com a famosa palhinha indiana.

E uma informação muito importante: a produção da palha possui baixo impacto ambiental, já que sua matéria-prima, a planta rattan, é integralmente aproveitada. Também não gera resíduos tóxicos ou quaisquer prejuízos à natureza e população local, já que o processo é feito de maneira artesanal.

A palhinha indiana é ótima para ser usada em cabeceiras, como neste projeto da Beatriz Zeglin. Foto: Rafael Ribeiro / Divulgação

Como usar a palhinha indiana em casa

O potencial de uso da palhinha indiana na arquitetura e decoração é gigante, e as mais renomadas mostras de arquitetura do mundo nos mostram suas infinitas possibilidades de aplicação.

O mais usual é encontrarmos a palhinha indiana como parte integrante de mesinhas, cabeceiras e, claro, cadeiras. Comentamos anteriormente sobre a Cadeira Thornet, a primeira do tipo a ganhar o mundo, e a partir dela muitos outros modelos apareceram e formaram uma estética tipicamente brasileira inconfundível.

Neste projeto de Robert Robl Arquitetura e Interiores, a cadeira Thonet ganha um desenho mais moderno. Foto: Rafael Renzo / Divulgação

Também vale a pena ousar e apostar na palhinha indiana como parte estrutural da arquitetura: ela é ótima para separar ambientes de maneira fluida e visualmente agradável, por exemplo.

Projeto por Helô Marques com o uso da palha indiana nas portas de correr do quarto. Foto: Rafael Renzo / Divulgação

Seja como for, a palhinha indiana é uma opção extremamente versátil e que se encaixa nos mais diferentes projetos de arquitetura e decoração. São infinitas as maneiras de aplicá-la, e cada vez mais o mundo do design a inclui em suas peças e disponibiliza um mobiliário elegante, leve e feito artesanalmente no mercado.

Projeto por Beatriz Quinelato. Fotos: Rafael Renzo / Divulgação

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