Do alto da sua cobertura duplex, localizada no bairro Jardins, em São Paulo, o arquiteto David Bastos tem a vastidão da cidade aos seus pés. A paisagem urbana que se dissolve em uma espécie de mar de arranha-céus nao lembra em nada a beleza natural da Bahia, sua terra natal, ou o clima vivaz do Rio de Janeiro, seu ninho anterior. Porém, a metrópole, com seu charme robusto e às vezes até mesmo austero, provou-se tão inspiradora como o oceano azul que banha o litoral baiano.

Isso porque, David optou por espelhar a paleta sombria do skyline paulistano no interior da sua morada, transgredindo a aura tropical que costuma envolver os projetos desenvolvidos pelo seu escritorio, o DB Arquitetos.

“Eu gosto muito do branco. Este apartamento tem muita luz e uma área aberta. Então, eu fui cobaia de mim mesmo, quis fazer tudo preto para ver o que daria. Fiz e gostei!”

O piso recebeu acabamento ebanizado enquanto as paredes e tetos foram pintadas da cor titânio, resultando em uma espécie de câmara escura, perfeita para abrigar os móveis e objetos escolhidos a dedo pelo morador – uma mistura boa de peças de design italiano, antiquariato e obras de arte. Mas tamanha ousadia só foi possível porque o apartamento tem uma qualidade especial que o David soube explorar com maestria: ele é rodeado por janelas que, quando abertas, permitem que a luz natural inunde os ambientes internos fazendo com que todo e qualquer adorno imediatamente salte aos olhos.

Além do entorno “acinzentado” como São Paulo, grande parte do mobiliário revela as variações tonais da paleta: do preto absoluto que tinge os sofás e tapetes ao grafite das cadeiras da sala de jantar, passando também pelo prata metálico que dá vida e forma à escada de aço, elemento arquitetônico que ganhou lugar de destaque no living. O branco aparece apenas como um suspiro de luz em detalhes decorativos e nas fotografias P&B que cobrem boa parte das paredes. Paredes, aliás, são escassas proporcionando um visual ainda mais amplo e fluido no primeiro andar da residência. E isso não poderia ser diferente… o arquiteto é fã incondicional de layouts abertos e costuma aplicá-los com frequência nos projetos criados para seus clientes. “As pessoas gostam de sentir-se livres de verdade”, explica.

Subindo a escada escultural chega-se ao escritório do David, local de muita inspiração assim como descontração. Além da sua biblioteca pessoal, o ambiente também abriga uma vasta coleção de obras de arte, peças de design e achados. O destaque fica para a composição de 50 quadros dos artista José Rufino que cobre praticamente toda extensão da parede principal do home theater.

Em meio à brincadeira cromática pra lá de sofisticada que se faz presente também no piso superior do apartamento, o destaque fica mesmo para o vermelho das portas e guarnições que levam à área íntima do apê. Mas vou deixar para contar mais sobre ela na segunda parte da matéria que entra amanhã aqui no blog. Também mostrarei com mais detalhes o espaço externo do duplex, composto pelo lounge, espaço gourmet e solário com direito a horta de temperos. Volta aqui para conferir o tudo!!

Fotos: Vivi Terra