É desconhecimento de muitos que o paisagismo envolve muito mais do que a seleção de plantas. Na verdade, ao se projetar um jardim, a escolha das plantas acontece no final de um planejamento que abrange primeiramente o planejamento do espaço – onde inserir caminhos, que tipo de piso usar, qual o melhor local para a churrasqueira, entre outras coisas. Isso se aplica também a coberturas, jardins de inverno etc. Como paisagista, adoro o desafio de todas as etapas desse processo, mas sempre senti atração especial pelo impacto criado com o contraste de cores, formas, texturas e alturas em um jardim, canteiro, parede verde ou vaso e pela técnica de combinar plantas de forma a criar esse impacto. E é sobre isso a coluna de hoje.

O britânico Alan Titchmarsh, autor de mais de 30 livros sobre jardinagem, e alguns outros profissionais tendem a achar que a criação de belas combinações de plantas resulta de um misto de intuição e de tentativa e erro. Tenho uma visão bem menos empírica a respeito, porque na verdade há um número de fatores que garantem belas composições. (Obviamente a escolha das plantas a serem combinadas tem que levar em conta as condições que elas requerem – por exemplo, se uma delas requer pouca água, não será possível combiná-la com outra que exija regas frequentes…)

Os fatores que garantem bons resultados seriam:

1. Contraste entre cores

Foto de Christina Salwitz

O vermelho e o verde são cores complementares, isto é, cores que estão opostas umas às outras no círculo cromático. Ficam mais vibrantes, intensas, quando combinadas, e esse contraste entre elas garante um visual impactante, como na composição acima. O mesmo se aplica às combinações de amarelo e roxo, azul e laranja.

Fonte: petalasnaturais.com.br

O contraste é mais sutil quando se combinam plantas ou flores de cores análogas, isto é, cores que aparecem uma ao lado da outra no círculo cromático, como vermelho e laranja; laranja e amarelo; amarelo e verde; verde e azul; azul e violeta; violeta e vermelho, ou em grupos com mais de duas cores análogas, como verde, amarelo e laranja; amarelo, azul e violeta etc. Embora o contraste seja menor, a combinação fica elegante:

Projeto de Vitoria Davies Paisagismo

As cores frias, como o azul, violeta, branco, amarelo claro e tons de verde passam uma sensação de calma e maior distanciamento, enquanto a combinação de plantas com cores quentes, como o laranja, amarelo e vermelho, é mais forte, se destaca mais.

Projeto de Cristiana Ruspa. Via Google

As plantas com tom prateado/azul-metálico funcionam como neutras e dão um toque especial junto a qualquer outra planta, ou conjunto de plantas, de cor diferente.

Via Google

A combinação de plantas com diferentes tons de uma única cor confere certa dramaticidade à composição:

Foto de Vitoria Davies

Fonte: Hayefield.com

Uma boa fonte de inspiração para combinar plantas no que diz respeito às cores são os cartões postais com pinturas de grandes pintores. Os artistas plásticos, mais do que ninguém, são craques em combinar cores…

2. Formato das folhas

Folhas com formatos diferentes ajudam a criar uma camada extra de interesse visual, fazendo com que o jardim, parede verde etc. tenham maior diversidade e, assim, fiquem menos monótonos. Por exemplo, espécies com folhas pontiagudas contrastando com plantas de folhagem arredondada:

Foto Christina Salwitz

Quando se combina plantas com texturas diferentes, o efeito é similar.

3. Textura

Texturas contrastantes também sempre garantem bons resultados. A parede verde abaixo é um ótimo exemplo disso, onde o contraste marcante é entre o filodendro, com suas folhas lisas, e o aspargo, com sua textura crespa, embora a textura das outras plantas também contribuam para a beleza desta composição.

Via Google

Um outro bom exemplo do efeito do contraste de texturas:

Via Google

4. Estampas das folhas

Uma outra maneira de criar belas composições é contrastando as estampas das folhas, como no caso da combinação da alocásia amazônica com a begônia abaixo:

Foto de Christina Salwitz

5. Altura das plantas

A variação na altura das plantas também produz um visual mais interessante, com as diferentes camadas tornando a composição mais cheia e exuberante. Geralmente isso significa plantar as espécies menos altas na frente e as mais altas, atrás.

Foto de Vitoria Davies

Por uma questão “didática”, listei separadamente os tipos de contrastes que geralmente garantem composições impactantes. Mas, como se vê em várias das imagens mostradas, cada composição pode incluir mais de um tipo de contraste – cor e formato; cor, formato e textura; e assim por diante.

Concluo a coluna com foto de uma pequena composição que fiz em uma cobertura, num local onde anteriormente, segundo a cliente, nada dava certo. O Alan Titchmarsh e outros diriam talvez que a minha “intuição” funcionou. Penso diferente: não tinha como não dar certo uma composição com esse infalível contraste de cores, formatos, texturas e alturas…

Projeto Vitoria Davies Paisagismo