Personalidade, memória afetiva e referências orientais sob medida
20 nov, 2025 | Apartamentos, Acima de 200 m2, Cidade

Fotos: Victor Mincov / Divulgação
Escritório: Beatriz Bertoni Arquitetura
Área: 214m²
Localização: Cambuí, Campinas – SP
A criação de um projeto com personalidade começa muito antes de qualquer escolha estética: ele nasce, na verdade, das histórias que acompanham seus moradores. Foi a partir desse repertório, com móveis, arte e objetos garimpados em viagens pelo Brasil e pelo mundo, que a arquiteta Beatriz Bertoni concebeu um projeto que celebra o olhar curioso do casal de moradores. Texturas naturais, luz suave e elementos afetivos compõem um refúgio pensado para quem vive em movimento, mas encontra no retorno para casa o seu ponto de equilíbrio.
Logo na chegada, o projeto materializa esse espírito. O forro em colmeia de madeira, com iluminação indireta, estrutura o hall e cria uma sutil pausa antes da entrada nas áreas sociais. A referência à arquitetura oriental aparece não apenas no teto rebaixado, mas também nos detalhes em rattan, nas camas mais baixas e nos futons que pontuam o apartamento com personalidade, dialogando com peças que vieram de diferentes continentes. A casa se constrói assim: como uma coleção de gestos que conectam passado, presente e movimento.
“A pedido da cliente, usamos pouca marcenaria fixa no projeto, para privilegiar móveis soltos e um ambiente mais fluido. As marcenarias desenhadas por nós seguiram um desenho limpo e muito personalizado. Quando possível, em peças soltas como a estante atrás do sofá da sala em imbuia maciça.”
Entre essas peças, destaca-se a estante em imbuia maciça posicionada atrás do sofá, cujo segmento giratório permite múltiplos usos, desde bancada de trabalho a apoio para café junto ao vidro da varanda. É a funcionalidade servindo à rotina sem abrir mão da delicadeza.
A antiga sala de jantar deu lugar a um ambiente voltado à contemplação: uma sala de leitura que traduz o modo de viver dos moradores. O jantar, por sua vez, migrou para junto da cozinha, em uma proposta mais informal e integrada. A presença do verde ganha força com a criação de uma floreira interna, que suaviza a vista urbana e reforça a atmosfera acolhedora que define este apartamento com personalidade. O banco fixo com futon acompanha essa ideia, trazendo conforto e descontração ao espaço social.
Já a cozinha original era funcional, porém destoava do estilo imaginado para o projeto. As intervenções foram pontuais, mas transformadoras. Portas em lambril nude substituíram o vidro leitoso; os puxadores de alumínio foram trocados, o porcelanato polido deu lugar ao microcimento acetinado, mais quente ao olhar, e o revestimento estampado foi coberto por uma cerâmica artesanal clara. A iluminação também ganhou novas possibilidades, com destaque para as arandelas sobre a bancada. Pequenas decisões que renovam por completo a experiência do ambiente.
“Onde era originalmente a sala de jantar, fizemos uma sala de leitura. Porque, afinal de contas, a casa é para quem vive nela! E o jantar se integrou à cozinha de forma mais despojada e informal. Nosso foco foi o conforto e a contemplação, criando uma floreira interna para tornar o verde mais presente em contraposição à vista bem urbana e um banco fixo em marcenaria com futon de fora a fora.”
Nos banheiros, a escolha pelo microcimento garantiu unidade visual e rapidez de execução, aplicada inclusive sobre os revestimentos existentes. Dentro do box, o travertino natural cria um contraste elegante, reforçando a estética serena que percorre o projeto. Já na suíte principal, o desenho da cabeceira une madeira e rattan em um painel duplo, coroado por uma faixa de espelho que amplia o espaço ao refletir a luz que entra pela janela. A cama baixa, em estilo tatame, reforça o clima despojado e recebe um enxoval personalizado, pensado para simplificar o dia a dia e manter a harmonia do conjunto.
Um dos grandes desafios estava na circulação para a área íntima: a lavanderia era o único caminho possível após reformas anteriores no apartamento, originalmente construído na década de 1980. Para requalificar esse trecho, a arquiteta criou uma porta muxarabi de madeira que esconde a área de serviço sem bloquear a luminosidade. O ambiente recebeu microcimento no piso e nas paredes, além de um pendente de palha de grande escala, uma solução que transforma um espaço meramente funcional em um corredor acolhedor e surpreendente.



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