07 2010

Baba Vacaro

05 jul, 2010 |

Formada em design de produto pela FAAP, Baba Vacaro é diretora de criação de importantes marcas brasileiras. Em seu escritório, Design Mix, pesquisa de tendências, compões linhas produtos e desenvolve peças. Dentre as marcas que dirige estão: Dominici, Dpot e St. James. Além do trabalho incrível e premiado, Baba tem uma visão e um conhecimento profundo do design brasileiro. Vale a leitura.  CV: No boletim que você faz  para a Rádio Eldorado, vejo seu cuidado em apresentar o design como algo  possível e acessível a todos, desmistificando sua idéia de exclusividade. Por  que motivo acredita que no Brasil ainda entendemos design dessa  forma? BV: O design é multidisciplinar, por isso as fronteiras com outras disciplinas são linhas muito tênues, o que explica um pouco a confusão. Vejo algumas outras hipóteses para o fato de entendermos o design no Brasil como algo exclusivo e para poucos. A primeira delas é que, quando aconteceu a abertura político-econômica do Brasil nos anos 80, vivia-se mundialmente um momento de fetichização do design. Falava-se o tempo todo em "design assinado" e aquela geração -os Yuppies- utilizava o design como signo de diferenciação, símbolo de status, quando consumia esses produtos assinados por designers celebridades. Na época importamos essas idéias no Brasil, mesmo sem ter assimilado nos anos anteriores a cultura do design dentro das empresas.  Outra hipótese, não excludente, é o fato de que, no Brasil, a fabricação está muito associada ao artesanal, por questões econômicas. O que temos à disposição em muitos setores é um tipo de manufatura que leva os preços dos produtos para cima, tornando-os acessíveis a um número restrito de consumidores. 

CV: Quais  características ou traços de personalidade são reconhecíveis no design  brasileiro? BV: Penso que muitas das características são reflexo de nossos meios de produção. Aqui o investimento em novas tecnologias é caro e por isso  ficamos restritos a produzir artesanalmente ou semi-industrialmente, às vezes com técnicas tradicionais que são usadas desde o início dos tempos. Nessa categoria conseguimos produzir com madeira, principalmente. Então a maior parte dos nossos grandes designers são conhecidos por seus móveis de madeira. Sérgio Rodrigues, Mauricio Azeredo, Carlos Motta, Claudia Moreira Salles, para citar apenas alguns. Outro traço comum no design brasileiro é reflexo de nossa cultura, de nosso próprio modo de viver, nossa espontaneidade e alegria. Vejo isso em produtos como as Havaianas, por exemplo. Esse tipo de valor que o design atribui aos produtos fica impregnado na matéria e faz com que as pessoas inconscientemente desejem o produto pelo significado que ele carrega. CV: Li uma entrevista que você deu para A Casa em que  comenta sobre o consumo de objetos mais humanos, que nos transmitam algo além  da pura funcionalidade. Porque você acha que esse movimento ganhou força nos  dias de hoje? BV: Retomo o que falei na pergunta anterior: as pessoas desejam os produtos pelo significado que eles carregam. Hoje vivemos num mundo veloz e sobrecarregado de tecnologia, e como já temos suficientes bons produtos à disposição buscamos neles mais que a pura funcionalidade. Nos atraem associações com um passado mais simples, não necessariamente vivido por nós, mas que nos proporcionem conforto emocional. Produtos com uma idéia de familiaridade, de lembrança, de associação mais com o homem que com a máquina. Produtos artesanais se encaixam muito bem nessa categoria, pois trazem com eles o imperfeito humano. Mas até mesmo produtos feitos com altíssima tecnologia, hoje, buscam escondê-la para tornar os produtos mais humanos. CV: Para quem quer entender mais sobre design quais  livros, sites ou outras fontes você recomenda? BV:Você já parou para pensar que todos os objetos que estão à sua volta foram desenhados por alguém? O design está muito mais presente na vida das pessoas do que elas se dão conta. Então acho que o principal é ver o mundo com curiosidade, entender o significado dos objetos e o que eles representam em nossas vidas. Avaliar o quanto eles melhoram (ou pioram, no caso de produtos de mau design) nossas vidas e fazer escolhas baseadas em nossas experiências. Sinceramente acho que para entender mais sobre design é preciso entender mais sobre as pessoas. E aí as possibilidades de aprendizado são muitas.

 

Foto: Casa e Jardim