A mudança dramática para as compras online está forçando as marcas de varejo a repensarem a experiência de compra do cliente e a explorarem novas maneiras de dar vida às compras nas lojas. A recente pandemia do coronavírus também pede medidas em relação à qualidade do ar, como também ambientes agradáveis, confortáveis e relaxantes onde os consumidores possam ficar por mais tempo, sentindo-se seguros.

Se você pedir para alguém imaginar um ambiente de relaxamento completo, a primeira imagem que vem à mente é um lugar cercado pela natureza, seja numa floresta, nas montanhas ou no mar. Raramente se imagina um escritório ou um shopping center como fonte de conforto e relaxamento. Ainda assim, a maioria das pessoas passa quase 90% do tempo dentro de ambientes fechados sem contato ou vistas para à natureza.

O design de interiores em conjunto com o paisagismo e o plantscaping (paisagismo de áreas internas) devem suscitar práticas de compra eficazes, contribuindo para uma percepção positiva da marca e aumentando o preço aceitável de seus produtos. O design biofílico demonstrou apoiar cada um desses objetivos, podendo melhorar a experiência dos clientes, traduzindo-se em aumento de receita.

Para se entender melhor sobre design biofílico, Edward O. Wilson em seu livro “Biophilia”, uma vez disse: “A natureza detém a chave da nossa satisfação estética, intelectual, cognitiva e até espiritual”. Portanto, quanto mais conexões diretas as pessoas tiverem com a natureza, melhor.”

O efeito é psicológico e fisiológico. Pessoas na natureza ou próximas a ela relatam menos ansiedade, humor melhorado e também mostram respostas físicas positivas aos ambientes naturais, como diminuição da pressão arterial, da freqüência cardíaca e do hormônio do estresse, o cortisol.

Estudos demonstram que passar tempo na natureza traz benefícios para a saúde mental e que pacientes hospitalares que têm uma visão para a natureza se recuperam mais rapidamente. Além disso, a luz natural melhora o aprendizado dos alunos nas escolas e as pessoas que trabalham em escritórios com plantas no interior ficam menos doentes.

360 Mall Zahra, no Kwait

A natureza domina o projeto de expansão do shopping center “360 Mall” no Kuwait, projeto da CallisonRTKL. “Quando o espaço estiver completo, ele apresentará grandes clarabóias, recursos naturais de água, palmeiras nos interiores, blocos de pedra e uma “parede viva” interna com mais de 100 espécies diferentes de plantas que purificam o ar, absorvem o ruído e minimizam as flutuações de temperatura do edifício”, diz O’Grady.

A luz natural, por exemplo, melhora o humor e o sono, regula o metabolismo e mantem o ritmo circadiano humano que é responsável pela regulação do funcionamento do corpo através dos hormônios que são produzidos de acordo com os estímulos das diferentes luminosidades do dia. De fato, o resultado da luz do dia nos espaços de varejo é surpreendente. A iluminação é um dos heróis do design de varejo, capaz de influenciar as vendas e melhorar o humor do cliente de uma só vez.

Lojas da Apple são famosas pela quantidade abundante de luz natural e do uso do design biofílico. Foto: Terramai

Muitos estudos comprovaram que a exposição à luz natural libera serotonina no cérebro, o que, por sua vez, melhora o humor. Em geral, quanto mais exposta à luz natural uma pessoa for, mais feliz ela será.  Quando vários elementos biofílicos estão trabalhando juntos, por exemplo, com o uso de materiais naturais, os clientes se sentem mais relaxados e mais dispostos a passar mais tempo no espaço e fazer compras. A madeira é um material natural e versátil que cria uma ótima conexão com o exterior. Estudos mostram que a madeira relaxa o sistema nervoso autônomo, resultando em respostas reduzidas ao estresse. Em termos de aparência, a madeira oferece uma conexão visual única com a natureza, devido à abundância de tipos, texturas e cores.

Mega Foodwalk, Tailândia Foto: archdaily.cn

O varejo biofílico

A vegetação está rapidamente se tornando uma das tendências mais fortes do design e é perfeita para o varejo, proporcionando maior percepção de qualidade, maior receptividade a preços mais altos e uma experiência de compra mais positiva em geral.

A introdução da vida vegetal pode reduzir a quantidade de contaminantes e poluentes com os quais os clientes entram em contato e combinada com a filtragem e ventilação do ar garantirá que o ar esteja mais limpo.

Os clientes de varejo aceitam que as empresas rodeadas pela natureza podem ter preços até 25% mais altos do que as empresas sem acesso à natureza. Há evidências de que os consumidores tendem a comprar mais em lojas com vegetação natural. (Joye, 2010).

Outro estudo descobriu que lugares com vegetação são muitas vezes considerados locais de destino para serem visitados e apreciados. Como resultado, os compradores estão dispostos a se deslocar para mais longe, pagar mais para estacionar, pagar mais pelos produtos que compram e ficar mais tempo nesses locais do que aqueles sem vegetação.

Além disso, aqueles que trabalham em ambientes de varejo biofílicos (vendedores, caixas, etc.) experimentam os mesmos benefícios de bem-estar, melhora do humor, foco e recuperação mais rápida do estresse quando têm acesso à natureza. No Brasil, dois exemplos de shoppings biofílicos são cases de sucesso e referência, o Shopping Cidade Jardim em São Paulo e o Shopping Galeria em Campinas. A sensação de agradabilidade e prazer produzida pela luz natural e pelo contato com o verde é evidente.

Shopping Cidade Jardim, São Paulo Foto: (divulgação)

“Voltar à natureza não é uma idéia nova em arquitetura, mas acho que a necessidade é mais evidente hoje porque as pessoas estão atadas aos seus eletrônicos e vivem mais frequentemente nas cidades”, diz Dwayne MacEwen, diretora da Arquitetura DMAC. Ela compara arquitetura à música: “O espaço entre as notas é onde está a mágica; caso contrário, é apenas ruído. Precisamos desse espaço entre as tarefas de nossas vidas cotidianas, e acho que os elementos da paisagem criam isso.”

Sendo assim, a relação que o design biofílico cria nos espaços de varejo é salutar para os dois lados e todos saem ganhando. De um lado os consumidores e trabalhadores que tanto se beneficiam dos efeitos positivos da natureza e do outro lado, os empresários que convertem o investimento em lucro.

É, parece que dinheiro pode, sim, nascer em árvores!

Fontes

Design biofílico traz o lado de fora para seres humanos mais felizes e saudáveis, por Matt Alderton

Veja como os espaços de varejo podem se beneficiar do design biofílico, por Terramai

Plantas verdes para edifícios verdes; Economia de Design Biofílico – Edição Gratuita, por

J. Clancy, 2015; M. Golden

The Economics of Biophilic Design, por  Terrapin Bright Green