Parecia muito improvável que aquela mesa com poucas dezenas de pessoas pudesse salvar a floresta das sequoias gigantes da costa oeste dos Estados Unidos. E tudo isso apenas com o projeto de reforma de um único prédio. Mas foi exatamente o que eles fizeram, tornando Portland, capital do Oregon, a cidade mais sustentável dos Estados Unidos.

Mas, puxa, essa história me empolga tanto que eu nem me apresentei. Muito prazer, eu sou a Natália Fontes Garcia e estou muito feliz e animada para participar deste Papo de Paisagista. Antes de mais nada, te aviso que o paisagismo para mim é apenas uma contemplação. Meus talentos não estão em mexer com terra, mudas e sementes, mas com as palavras: sou jornalista e escritora. Nasci em São Paulo e sou uma profunda entusiasta de criar novas e melhores formas de vivermos em cidades. Há mais de dez anos que me dedico a trabalhar com esse tema, e é sobre isso que gostaria de conversar com você aqui através desta coluna.

Ao longo dos últimos 10 anos, eu tive um projeto chamado Cidades para Pessoas, com o qual percorri mais de 100 destinos no mundo. Investiguei projetos, ideias, iniciativas, nadei em rios que já tinham sido muito poluídos, pedalei por antigos trilhos de trem que se tornaram ciclovias, conheci pessoas que inventaram seus próprios trabalhos e experimentei culinárias muito distintas entre si.

Até que chegou esta pandemia e me vi, como tantos de nós, trancada dentro de casa, apertada pela necessidade de me reinventar, em todos os sentidos. E vi, também, muitas cidades serem praticamente esvaziadas. Viadutos que viviam congestionados, prédios corporativos que viviam cheios de gente trabalhando, restaurantes que viviam lotados, agora com pouco ou nenhum movimento. Então percebi que a própria forma como nós vivemos em cidades estava passando por uma reinvenção. E foi aí que decidi criar um novo empreendimento, derivado do Cidades para Pessoas, mas que olhasse para este momento específico que estamos vivendo. Nasceu, então, A Nova Cidade, um Think Tank de inovação da vida urbana. E é justamente para falar sobre A Nova Cidade que inauguro esta coluna.

Bem, apresentação feita, vamos às sequoias gigantes! A história é a seguinte: nos anos 70, uma ONG dedicada à preservação da floresta das sequoias gigantes recebeu uma enorme bonificação em dinheiro. Fizeram uma reunião com seu conselho para decidir qual seria a melhor estratégia para investir esse dinheiro. Foi então que uma das participantes deu uma ideia inusitada: em vez de investir em aumentar o monitoramento da floresta ou em guardas florestais, a maneira mais eficiente de preservar as sequoias gigantes seria aplicar esse dinheiro na cidade.

Cape Schanck VIC, Australia. Foto: Olly Allars

O nome dessa participante é Jane Jacobs, uma das maiores referências do mundo ocidental no tema do urbanismo, que influencia pensadores e líderes até hoje. Jane Jacobs é autora do livro Morte e Vida das Grandes Cidades, onde afirma que as cidades não são uma equação a ser resolvida (“aqui as pessoas vão morar, aqui irão trabalhar, aqui irão se divertir, e nesta avenida irão se movimentar”), mas um jardim diverso e dinâmico que está o tempo todo em movimento, precisando ser observado e cuidado. Ela era poética, mas também muito prática e desenvolveu muitas teorias e ferramentas para ensinar os urbanistas a lidarem com a complexidade das cidades.

Sequoia National Park, EUA. Foto: Josh Carter

E Jane Jacobs era, também, muito articulada e convincente. Tanto que conseguiu fazer o conselho inteiro comprar a sua ideia. Investiram na reforma de um prédio no bairro industrial de Portland com tecnologias totalmente sustentáveis. O prédio foi inteiro refeito utilizando apenas materiais reaproveitados, teve implantados sistemas de reuso de água e tratamento local de esgoto e instituiu uso misto no estacionamento, que era ocupado semanalmente por feiras de produtos orgânicos. Tudo isso de forma totalmente pioneira e inovadora. O projeto se tornou uma referência mundial, influenciou a cultura de Portland, mudou sua lógica de construção e, com isso, já não era mais necessário derrubar árvores para manter a cidade funcionando. Tudo isso porque aquelas poucas dezenas de pessoas
naquela reunião acreditaram que poderiam ser parte de um mundo melhor.

Sequoia National Forest, California, EUA. Foto: Stephen Leonardi

Foto: David Everett Strickler

Bem, se você também acredita nisso, prometo me dedicar de corpo e alma a esta coluna para manter essa chama acesa dentro de você! E, antes de me despedir do nosso primeiro encontro, te faço um convite. Eu tenho também
um podcast, chamado A Nova Cidade, e no último episódio eu conto essa história da sequoias gigantes com mais detalhes (alguns inesperados!). E, também nesse episódio, compartilho com você a descoberta de uma das maiores antropólogas do mundo – a Margaret Mead – sobre como surgiu a civilização humana. E já adianto: tem TUDO a ver com o Papo de Paisagista.

Deixo aqui o link para você ouvir o último episódio do meu podcast CLICANDO AQUI

E, semana que vem, nos encontramos por aqui. Grande Abraço!