Patrick Blanc é conhecido em geral como o inventor do jardim vertical. Na realidade, paredes verdes já existiam muitos séculos antes desse grande botânico, cientista e paisagista aparecer em cena. A figura abaixo mostra a evolução dos jardins verticais: em 3000 A.C. aparecem as primeiras paredes verdes, em regiões mediterrâneas, para o cultivo de videiras ou para fornecer sombra onde não era possível plantar árvores; em 2500 A.C., o plantio de frutíferas em forma de espaldeira se tornou muito popular na França; em 600 A.C. já se usava o sistema de plantio em vasos fixados em muros ou paredes.

Fonte: land8.com

A grande inovação de Patrick Blanc foi criar um sistema de parede verde em que bastam apenas duas camadas de feltro, água e nutrientes para as plantas se desenvolverem belissimamente bem – independentemente do tamanho e das condições da área a ser aplicado esse sistema: áreas externas, internas, com vento, sem vento, com muito sol, pouco sol, sombra etc.

Trata-se de uma estrutura metálica fixada em um muro ou parede, coberta por uma placa de PVC de 10mm de grossura, que dá rigidez à estrutura e a torna impermeável. Nessa placa de PVC são grampeadas duas camadas de feltro de poliamida de 3mm, que sustentam as raízes das plantas. Uma rede de mangueiras com furos de 2mm ao longo delas, a cada 10 cm, controlada por válvulas, fornece uma solução contendo minerais dissolvidos necessários às plantas. O feltro é embebido, por capilaridade, com essa solução, que, pela ação da gravidade, escorre pela parede. As raízes das plantas absorvem os nutrientes de que elas precisam, e a água excedente é coletada numa calha na parte inferior da parede e reinjetada na rede – um sistema sustentável inventado por Patrick Blanc nos anos 80, nos primórdios da discussão sobre a preservação dos recursos naturais do planeta Terra. Lembrando que foi nessa mesma década que, pela primeira vez, o conceito de sustentabilidade foi expresso, e mundialmente aceito, com a publicação em 1987 do “Relatório Brundtland”, ou “Nosso Futuro Comum”, um estudo encomendado pela ONU à então primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland. Assim, podemos afirmar que, além da genialidade de sua criação, Blanc foi também pioneiro na adoção dessa prática sustentável vital em jardins verticais. E mais: seu sistema, inspirado na Natureza, como veremos logo abaixo, é um exemplo perfeito de aplicação da Biomimética.

A versão original do projeto foi criada por Patrick Blanc ainda adolescente, com o objetivo de prover um sistema de filtragem biológico para os seus aquários. Em 1988 patenteou uma versão melhorada do projeto original. Inspirou-se nas florestas tropicais e montanhas altas, onde muitas plantas crescem em meio a alta umidade e sem solo algum, agarrando-se nas rochas e pedras. E são as plantas encontradas nesses habitats que ele usa em seus jardins verticais. A inexistência de solo torna-as menos susceptíveis a pragas e doenças, um outro benefício do sistema. E são necessárias apenas duas manutenções por ano, ao contrário do que recomendam as empresas de jardins verticais em geral, que, segundo ele, visam aumentar seus lucros recomendando mais manutenções do que necessário.

Além de ressaltar a importância de se criarem jardins verticais sustentáveis e condenar veementemente a construção de parede verdes que não utilizem água reciclada ou da chuva, Blanc também critica fortemente a prática da greenwashing ou “lavagem verde” – o ato de enganar clientes e consumidores sobre os benefícios ambientais de um produto ou serviço ou sobre as práticas sustentáveis de sua empresa, quando elas na verdade inexistem. Na sua visão, muitos projetos arquitetônicos supostamente sustentáveis constituem de fato “lavagem verde”.

Patrick Blanc nasceu em 1953 em Paris. Graduou-se em Botânica, obteve um Doutorado em Ciências Naturais em 1979 e comecou a trabalhar no Centre National de la Recherce Scientifique (Centro Nacional da Pesquisa Científica) como cientista especializado em plantas tropicais, e a realizar inúmeras expedições científicas. Apesar de conhecido por seus jardins verticais magníficos, Blanc é acima de tudo um cientista, pesquisador e investigador da natureza.

Jardim vertical criado por Patrick Blanc em seu quarto, na casa dos pais, em 1978. Foto: verticalgardenpatrickblanc.com

Patrick Blanc entre as folhas de uma Xanthosoma, em San Ramon, Peru, 1985. Copyright Pascal Heni

A primeira comissão que recebeu foi em 1986, para criar um jardim vertical na Cité de Sciences e de L’Industrie, em Paris. Em 1994 apresentou-o no Festival Internacional de Jardins em Chaumont-sur-Loire, e foi quando seu trabalho começou a despertar maior interesse por parte de botânicos e paisagistas.

Patrick Blanc instalando as plantas em Chaumont-sur-Loire, junho de 1994. Copyright Pascal Heni

Mas somente 10 anos depois, em 2004, veio a atrair o interesse de um público mais amplo, com a construção da parede verde no Musée du Quai Branly, em Paris. A partir de então, os termos “jardim vertical” e “parede verde” entraram definitivamente para o vocabulário do público. Composto de 15.000 plantas, de 150 diferentes espécies, hoje, 16 anos depois de ser instalado, com as plantas crescidas, ainda se mantém perfeitamente saudável e é um dos pontos turísticos de Paris.

Parede verde do Musée du Quai Branly em 2006, dois anos após sua instalação. Foto: verticalgardenpatrickblanc.com

Parede verde do Musée du Quai Branly em 2017. Foto: verticalgardenpatrickblanc.com

Ao todo, Patrick Blanc já criou mais de 300 jardins verticais pelo mundo afora, entre eles o jardim vertical mais alto do mundo, em One Central Park, Sydney, completado em 2013:

One Central Park, Sydney, o mais alto jardim vertical do mundo. Foto: verticalgardenpatrickblanc.com

É interessante comparar a complexidade do design de Blanc para o projeto L’Oasis d’Aboukir (2013) e o resultado final. Foram usadas 237 espécies de plantas.

Projeto L’Oasis d’Aboukir. Foto: verticalgardenpatrickblanc.com

L’Oasis d’Aboukir, Paris. Foto: Yann MonelO único jardim vertical de Patrick Blanc que não se pode visitar fica em Ivry-sur-Seine, nos arredores de Paris, num prédio que mais parece uma antiga e dilapidada fábrica. É aí que reside o botânico e onde ele criou o que considero sua obra-prima: um jardim vertical de 80m2 no interior de sua residência, instalado 11 anos atrás, co-habitado por 250 espécies de plantas, pássaros, lagartos e sapos, tendo ao lado sua mesa de trabalho assentada sobre um imenso aquário, sua paixão original. Sim, porque foi a necessidade de ter um filtro biológico para seus peixes que o levou a criar jardins verticais…

Jardim vertical na residência de Patrick Blanc. Foto: verticalgardenspatrickblanc.com

 

Aquário na residência de Patrick Blanc, com sua mesa de trabalho sobre ele. Foto: verticalgardenspatrickblanc.com