Vamos lá falar sobre um assunto polêmico… GOSTO. Visitei a Casa Cor sozinha, com arquitetos e com amigos, a cada passeada era uma experiência diferente. Quando fiz sozinha percebia os ambientes com pura emoção, o que me tocava, me comovia de alguma maneira eu gostava, independente do estilo do espaço – e sobre isso eu vou falar daqui a pouco. Quando fiz com outros profissionais da área (arquitetos, designers e jornalistas) compartilhei algumas impressões mais técnicas relacionadas a acabamento, proporção, conceito e proposta. E finalmente, quando passeei pela mostra com amigos de outras áreas me surpreendi pois muitas vezes espaços que tinha achava fracos eles tinham gostado.

Dai que me veio esse questionamento: qual o motivo de experiências tão diferentes? Será que isso é gosto? Gosto se discute?   

Soma-se a essa introdução uma conversa que tive com o Junior Santaella, costureiro que gosto demais, e ele me disse:

“Lucilinha, eu não consigo fazer nenhuma avaliação estética sem antes fazer uma avaliação moral e ética sobre aquilo que estou vendo”. 

Achei isso de uma sensibilidade ímpar e diz muito sobre o que quero compartilhar aqui. Eu acho que gosto é um assunto que deve ser conversado sim, não gosto no sentido do “bom gosto” que conhecemos da década de 60, mas GOSTO num sentido mais amplo de algo não cartesiano que nos faz sentir-mos bem ou não num determinado espaço.

Acredito piamente que quanto mais entendemos e nos aprofundamos num assunto mais criteriosos ficamos, mais referências temos e conseguimos discernir com maior domínio quais histórias queremos contar e o que nos faz sentido. Sendo assim, acho factível explicar os motivos pelos quais não gostamos de um determinado espaço, por exemplo. Houve projetos na Casa Cor que não gostei pois achei a produção pobre de pesquisa, algumas vezes acabamentos ruins ou soluções arquitetônicas mal estruturadas (proporções erradas e circulação idem), mas isso independe de estilo.

Depois de 10 anos vendo projetos de diversos estilos consigo entender o estilo de um determinado espaço e gostar ou não do resultado final mesmo que aquele trabalho não seja do MEU estilo.

Falei tudo isso para introduzir um assunto que vou explorar bastante ao longos das proximas semanas mas também para te apresentar o loft projetado pelo Michel Safatle na Casa Cor este ano. Achei tudo ali impecável. A mistura de móveis de diferentes épocas, a escolhas das cores e texturas, as obras de arte que ele pinçou a dedo com a preocupação de trazer, por exemplo, aquarelas da Tarsila do Amaral nunca antes apresentadas, as soluções arquitetônicas que ele deu nas paredes e por fim a produção que para mim é uma das mais impecáveis de toda a mostra. O estilo de trabalho do Michel me agrada muito, mas quero chegar no seguinte ponto: se não é o seu estilo ok, sem problemas, mas observe os pontos que citei acima e repare que a narrativa do espaço que ele construiu é sólida e coerente. Pode até não ser o seu estilo se você prefere algo clean e minimalista, mas é um trabalho muito bom. Esse é o ponto. 

Chega de churumelas e vamos as fotos né…

Fotos: Salvador Cordato