12 2025

Um apê nada óbvio e cheio de personalidade

09 dez, 2025 | Apartamentos, Acima de 200 m2, Cidade

Fotos: Re Freitas / Divulgação
Escritório: Fill Arquitetos
Área: 240m²
Localização: Ipanema, Rio de Janeiro

O ponto de partida para este apê veio de uma frase que costuma acompanhar quem entra nele: “Esse apartamento não poderia ser de outra pessoa”. Nada de soluções neutras, homogêneas ou genéricas: os moradores buscavam uma casa com personalidade.

Rever layout, circulação e usos foi o primeiro movimento do escritório Fill Arquitetos, que já conheciam os clientes de longa data e já havia, inclusive, reformado aquele mesmo apê para a família. O escritório então recebeu o desafio de reimaginar o espaço sob outra lente.

“O pedido central era que a casa respeitasse quem eles são. A família já possuía um mobiliário recente de um projeto nosso, além de um acervo de arte importante e uma forte relação afetiva com os objetos. O objetivo não era trocar tudo, mas reorganizar. Rever layout, circulação e usos, deixando a casa mais alinhada com o momento atual deles. Isso também incluiu intervenções mais ousadas, como o reestofamento do sofá em tecido xadrez e a poltrona Mole em verde.”

Como os arquitetos reforçam, a tomada dessas decisões mais ousadas só se sustentam quando existe confiança mútua, e foi justamente o que deu asas ao projeto. Pedidos específicos ajudaram a moldar o caráter único do lar, como a mesa de DJ desejada pelo marido, mas que não poderia permanecer exposta. A solução foi criar um ponto estratégico onde ela pudesse existir e desaparecer, mantendo o equilíbrio entre funcionalidade e discrição.

Da mesma forma, elementos originais do apartamento foram preservados, reforçando a narrativa temporal: o piso de tábua corrida, as madeiras de demolição da estante e uma nova parede de concreto aparente que funciona como ponte entre passado e presente, costurando materiais e épocas distintas.

Revisitar um trabalho antigo exigiu mais do que ajustes estéticos, foi preciso exercitar a escuta e o desapego. O escritório, que também havia amadurecido no intervalo entre o primeiro e o segundo projeto, precisou reconstruir suas próprias ideias sobre aquele espaço. O que antes parecia resolvido já não dialogava com a vida atual dos moradores. Essa reinterpretação, no entanto, trouxe o frescor necessário para que a casa adquirisse outra camada de sentido.

“Desde o início do projeto, os clientes deixaram claro que tinham um gosto mais peculiar e que isso precisava ser respeitado. Não se tratava de nada exótico ou extravagante, mas de uma casa que não poderia ser óbvia, nem neutra. Ela precisava ter identidade, história, memória. Seis meses depois da entrega, recebi uma mensagem deles chegando de viagem. Mandaram algumas fotos aleatórias do apartamento e agradeceram novamente pelo projeto. Foi um daqueles momentos em que você sabe que acertou. Quando o cliente entra em casa depois de um longo período e se reconhece de verdade ali. Hoje, a casa tem a cara e a história deles.”

Hoje, o apê parece finalmente ter encontrado sua voz. Ele acolhe a família com a naturalidade de quem conhece sua história e, ao mesmo tempo, oferece novos campos de descoberta. Talvez seja por isso que os amigos repitam, sem hesitar, que este lar não poderia pertencer a mais ninguém. E, no fim, essa é a maior prova de que o projeto cumpriu com precisão aquilo que se propôs a ser.