Integração, iluminação natural e maximalismo em apê carioca

17 nov, 2025 | Apartamentos, De 50 a 100 m2, Cidade

Fotos: Raiana Medina / Divulgação
Escritório: SketchLab Arquitetura
Produção visual: Karina Albuquerque
Área: 80m²
Localização: Botafogo, Rio de Janeiro

Assinado pelas arquitetas Luana Bergamo e Luiza Mesquita, do SketchLab Arquitetura, este projeto explora o maximalismo na decoração como ponto de partida para transformar um apartamento de 80m² carioca em um lar vibrante, regado por iluminação natural e cheio de personalidade. Pensado para um casal jovem em seu primeiro imóvel próprio — e para o border collie Fred, claro — o projeto nasceu do desejo de criar um espaço integrado, acolhedor e fiel ao estilo de vida dos moradores.

Desde o início, integração era a palavra-chave. A planta original passou por uma reconfiguração completa: a antiga cozinha deu lugar à nova área de serviço e parte do lavabo, enquanto os antigos quarto e banheiro de serviço se tornaram base para a ilha da cozinha, agora totalmente aberta para a sala. Uma parede de tijolinhos cimentícios em tom terracota também foi criada, acolhendo quem entra e reforçando a paleta terrosa desejada pelos moradores.

“Desde o início, o pedido principal dos clientes foi justamente essa integração entre os ambientes, com o cuidado de evitar que o acesso ao imóvel remetesse a um corredor sem graça. Além de integrar cozinha e sala, o casal nos pediu um apartamento ‘aquecido’, com presença marcante da madeira e de tons terrosos, especialmente o terracota, que aplicamos tanto no revestimento de tijolinhos da parede principal da sala quanto na área de serviço.”

Esse uso de texturas, cores quentes e elementos gráficos sustenta o conceito central do projeto: o maximalismo na decoração como ferramenta narrativa. Paredes com paginações diversas, trechos com forro rebaixado e estruturas de concreto aparente costuram uma estética cheia de camadas e profundidades. Para equilibrar o olhar, o branco suaviza pontos estratégicos, enquanto o concreto bruto mantém o caráter urbano do espaço.

A marcenaria, desenhada sob medida, reforça o apreço do casal pela madeira. Esse mesmo material aparece nos móveis soltos, que combinam achados de fast design com ícones do mobiliário brasileiro, caso do banco Mocho, de Sergio Rodrigues. Quadros estrategicamente escolhidos completam o conjunto, criando um hi-lo elegante que traduz o momento de vida dos moradores.

Em todo o piso, as réguas de porcelanato amadeirado assentadas em espinha de peixe adicionam movimento, enquanto as persianas horizontais em bambu filtram a luz e criam jogos de sombra que mudam ao longo do dia — uma escolha que se tornou protagonista. O tapete off-white com linhas azuladas, feito em material PET resistente, delimita a área de estar sem abrir mão da praticidade para quem convive com um cãozinho.

“Quando sugerimos o uso de persianas nas diversas janelas que conectam os ambientes integrados, os clientes inicialmente preferiam cortinas lisas. Foi preciso insistir e pedir que confiassem no efeito da luz natural filtrada pelas lâminas de bambu. E deu certo! Ao final do projeto, recebemos a seguinte mensagem: ‘Ficou muito mais bonito do que imaginávamos! Muito obrigado mesmo.”

A área social reúne peças que reforçam a convivência, como o sofá em formato ilha e o banco planejado com espaço para armazenamento. A ausência de forro deixa a laje aparente e reforça a atmosfera industrial, iluminada por pontos funcionais. Já a cozinha, com sua ilha generosa e o pilar aparente, sintetiza o espírito do projeto: estética marcante, praticidade e fluxo bem resolvido. A integração com a área de serviço acontece por meio de uma porta-camarão, complementada por fruteiras e gavetas que otimizam o uso diário. Nem tudo foi simples, e o maximalismo na decoração exigiu soluções engenhosas.

“O principal desafio técnico foi criar um lavabo sem a permissão para acessar o forro da unidade inferior. A equipe de engenharia atuou com muito esmero e cuidado para garantir o sucesso da solução. A laje aparente e o pé-direito baixo também impuseram dificuldades na definição do posicionamento das máquinas de ar-condicionado. A parede de tijolinho foi escolhida por sua eficiência, mas como não era possível passar a infraestrutura pelo forro, foi necessária a construção de uma contra-parede em drywall atrás da televisão, garantindo a funcionalidade esperada.”

Depois de 10 meses entre criação, obra e decoração, o apartamento ganhou alma carioca, frescor urbano e um toque de “borogodó” que só projetos feitos sob medida conseguem alcançar. Um lar maximalista, quente, cheio de vida e único.