Casa de campo integra a Mantiqueira aos interiores
08 dez, 2025 | Casas, Acima de 200 m2, Campo

Fotos: Carolina Lacaz / Divulgação
Escritório: Estudio Allo
Paisagismo: Jair Pinheiro Paisagismo
Área: 700m²
Localização: Gonçalves, Minas Gerais
Cercada pela natureza e com uma vista privilegiada da Serra da Mantiqueira, esta casa de campo de 700m² em Gonçalves, Sul de Minas, parece nascer do próprio terreno. Assinada por Estudio Allo, ela traduz o desejo de uma família em viver em um lar que respirasse simplicidade, acolhimento e uma relação direta com a paisagem serrana.
O pedido dos clientes era claro: criar interiores calorosos, funcionais e enraizados na cultura local. Num lugar onde o clima muda sem avisar e o acesso exige escolhas práticas, cada solução precisou ser inteligente e gentil com o cotidiano da família. A equipe decidiu então transformar os desafios em direção, com distância dos centros urbanos, mão de obra local e materiais disponíveis na região, e fez disso o motor criativo do projeto.
“Os clientes queriam uma casa para reunir amigos, cozinhar sem pressa, aquecer o corpo e a alma nos dias frios, e deixar que a paisagem entrasse sem esforço. Os desafios acompanharam a geografia, a distância do urbano, a mão de obra local, a necessidade de trabalhar com materiais disponíveis na região e fáceis de executar. Transformamos essas limitações em força, optando por elementos vernaculares, texturas naturais e acabamentos que conversam com a cultura da Mantiqueira.”
A casa se organiza a partir do fogão a lenha, protagonista absoluto e guardião da atmosfera mineira. Ele aquece, reúne e perfuma, ditando o ritmo dos espaços e servindo como ponto de encontro. Bancadas e piso monolítico em cimento queimado off-white garantem continuidade visual e praticidade essencial para o uso constante da casa de campo. Na área íntima, a madeira de demolição encontrada na região preserva irregularidades e histórias, enquanto as cabeceiras feitas de araucárias caídas no próprio terreno criam um gesto afetivo e respeitoso com o lugar.
Na sala, o forro de madeira cumaru desenha uma linha quente que guia o olhar, enquanto a marcenaria em muiracatiara tonalizada valoriza as formas construídas. A lareira, desenhada sob medida, cumpre a função de enquadrar a vista, em uma moldura que traz o horizonte para dentro, desfazendo fronteiras entre interior e exterior.
“A iluminação teve um papel fundamental na atmosfera que queríamos criar. As tesouras em madeira recebem iluminação indireta que deixa o forro ainda mais quente ao cair da noite. As arandelas espalham uma luz suave, criando aquele clima gostoso de final de dia na montanha, onde tudo fica mais lento, mais íntimo e mais próximo.”
Cerâmica, fibras naturais, mesas de tora maciça, peças garimpadas em antiquários da região e um sofá de veludo compõem um repertório tátil que equilibra rusticidade e conforto. Cada objeto foi escolhido para pertencer, como se sempre estivesse ali. A paleta terrosa, o uso de materiais locais e a presença constante da vista reforçam essa sensação de coerência tranquila.
O resultado é uma casa de campo que fala com a paisagem, respeita a cultura local e celebra a vida que acontece sem pressa. Lembrando que, ali, o essencial se revela no tempo, na luz filtrada pelo forro, na madeira marcada pelos anos e no gesto cuidadoso de quem constrói com o que o lugar oferece. Uma arquitetura que abraça a família, o entorno e deixa a montanha entrar sem pedir licença.



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