Fotos: Arquivo pessoal / Reprodução

Entre as paredes de uma casa, cabem infinitas histórias, algumas contadas em palavras, outras guardadas em silêncio. Foi sobre esse território íntimo, onde o morar se mistura à memória e ao luto, que conversei com a escritora e psiquiatra Natalia Timerman em mais um episódio do Em Casa, o videocast do canal. Autora de Copo Vazio e As Pequenas Chances, Natalia transita entre a literatura, a medicina, a clínica e a casa — espaços que, para ela, são igualmente habitados por presenças, ausências e significados.

Ao refletir sobre o que fica após a partida de alguém querido, refletimos também sobre a estranha permanência dos objetos, “a dolorosa inutilidade das coisas”, como descreve. Guardamos pertences de quem amamos como se eles fossem pontes para manter viva uma presença que já se desfez no tempo. Cada livro, cada copo, cada vinho não aberto parece carregar a tentativa de prolongar uma história. Mas, como Natalia reforça, “isso faz parte do luto: incorporar a vida da pessoa à nossa”. Esvaziar uma casa é, de certa forma, recontar a própria memória e também se despedir um pouco de si.

Para a psiquiatra e escritora, a casa é o lugar onde se guardam as intimidades: não só os objetos, mas os gestos, as marcas e as pequenas escolhas do cotidiano que revelam quem somos. Quando perde seu morador, o lar se torna um espaço suspenso entre o passado e o presente. Tudo continua no mesmo lugar, mas, mesmo assim, nada mais é igual. Talvez por isso tantas pessoas sintam a necessidade de transformar seus lares após o luto, enquanto outras não suportam mover um único quadro. Afinal, cada um encontra sua forma de lidar com o ninho vazio.

Natalia também conta como os livros são, para ela, um abrigo. Ao organizar sua estante depois de uma mudança, foi ali, entre capas e palavras familiares, que se sentiu finalmente em casa. Há um conforto em estar rodeada daquilo que faz sentido, com objetos que, mais do que decorar, contam quem somos e o que amamos. E é nesse entrelaçamento entre o interior da casa e o interior da alma que se revela a dimensão mais profunda do morar.

No fim, a conversa nos convida a pensar sobre o que deixamos para trás, sobre os rastros que ficam em nossos espaços, nas pessoas e nas memórias que nos sobrevivem. Porque assim como os objetos guardam histórias, também somos guardados por eles. E talvez seja justamente aí, nesse elo invisível entre o material e o imaterial, que o morar se transforma em uma forma de continuidade da vida.

O bate-papo está imperdível, e você pode assisti-lo completo agora mesmo. É só clicar no vídeo abaixo e se maravilhar com as reflexões propostas por Natalia Timerman. Depois me conta o que achou! Quero saber sua impressão sobre a relação do morar com o luto.

Aperte o PLAY para assistir ao episódio completo.