
Fotos: Arquivo pessoal / Reprodução
No novo episódio do Em Casa, o videocast do Casa de Valentina, a conversa é com Ana Maria Meirelles Chacra, engenheira civil que construiu uma trajetória marcada por desvios férteis entre o canteiro de obras, o mundo corporativo e o universo da arquitetura e do design em Nova York. Ainda estudante, trabalhou em construtoras e viveu de perto os desafios de ser mulher na obra, experiência que moldou não só sua postura profissional, mas também seu olhar atento às dinâmicas de poder e de execução no dia a dia dos projetos.
A mudança para Nova York, ao lado do marido, o jornalista Guga Chacra, abriu novos caminhos. Na NYU, Ana cursou Business School e mais tarde um mestrado em Marketing, o que a levou a atuar por 12 anos no mercado corporativo, principalmente nas áreas de finanças e marketing analítico. Apesar da estabilidade, o interesse por arte, reformas e pela construção do espaço doméstico nunca ficou em segundo plano, e foi justamente a necessidade de conciliar trabalho, família e uma rotina mais flexível que impulsionou uma virada definitiva.
Ao reformar imóveis na cidade, Ana percebeu diferenças profundas entre a burocracia americana e a brasileira. O encontro com a designer de interiores Helena, sua sócia, trouxe uma nova perspectiva e, após três anos conciliando duas carreiras, nasceu o House of Canfield. No início, o escritório atendia principalmente brasileiros em busca de um piéd-à-terre em Nova York; hoje, segundo ela, a clientela se divide igualmente entre brasileiros e estrangeiros, reflexo de uma atuação cada vez mais consolidada no mercado local.
Durante a conversa, Ana desmonta a ideia de que nos Estados Unidos “tem de tudo”. O custo de importação de peças interessantes é alto e pouco acessível, mesmo em projetos de alto padrão, o que acaba gerando interiores com linguagens bastante semelhantes. Ainda assim, ela destaca um ponto sensível: o brasileiro, mesmo com menos recursos, costuma ser mais criativo. No House of Canfield, não há um estilo pré-definido; o trabalho parte do gosto do cliente, com o cuidado de direcionar o olhar para que o conjunto faça sentido, sem se prender a rótulos estéticos.
A agilidade do mercado nova-iorquino é outro choque cultural importante. Em Manhattan, decisões precisam ser rápidas: um prestador que faz uma pergunta pela manhã pode executar o serviço poucas horas depois. Essa dinâmica exige confiança mútua entre cliente e profissional, especialmente em projetos à distância. Ana observa ainda que, embora os materiais de construção sejam mais acessíveis e permitam maior experimentação, o mobiliário é significativamente mais caro, o que impõe limites claros às escolhas.
Entre reflexões sobre repertório, criatividade, feminismo, ansiedade dos clientes e a reforma como fator de valorização do imóvel, Ana compartilha histórias pessoais que revelam sua relação afetiva com a casa, como o episódio da cadeira Diz, de Sérgio Rodrigues, que desapareceu no corredor do prédio em Nova York. Um relato que sintetiza bem o espírito da conversa: morar, reformar e trabalhar com arquitetura é também lidar com limites, perdas, adaptações e, sobretudo, com a busca por sentido e felicidade no que se constrói todos os dias.
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