Apê contemporâneo pensado nos mínimos detalhes

19 nov, 2025 | De 100 a 200 m2, Cidade

Fotos: Pedro Kok / Divulgação
Escritório: H2C Arquitetura
Paisagismo: Bruno Moreno
Área: 140m²
Localização: Vila Madalena, São Paulo

No coração da Vila Madalena, em São Paulo, este apartamento contemporâneo de 140m² assinado pela H2C Arquitetura transforma o morar em uma experiência sensorial. Criado em 2024 para um casal de curitibanos recém-chegado à capital — ela artista plástica, ele publicitário — o projeto nasceu do desejo de construir um refúgio luminoso, silencioso e funcional, onde a vida a dois e a criatividade pudessem coexistir sem fronteiras.

A busca pelo escritório surgiu de maneira afetiva: os moradores descobriram a H2C por meio do vídeo do apartamento de Helena, sócia do estúdio, e imediatamente se conectaram com a delicadeza das soluções e com o modo como a arquitetura parecia se adaptar à rotina dos clientes. A partir daí, iniciou-se uma parceria que combinou escuta cuidadosa, experimentações e uma compreensão profunda do que aquela nova fase representava.

O apê contemporâneo exigiu escolhas ousadas desde o início. A planta apresentava a área de serviço no centro da sala, um desafio que poderia comprometer a fluidez e a leveza que o casal buscava. Para resolver o impasse, o arquiteto apostou em uma solução integrada, discreta e inteligente, que esconde equipamentos e funções sem criar barreiras visuais. O mesmo raciocínio guiou a cozinha, desenhada na área social sem recorrer a múltiplos revestimentos, garantindo unidade estética e protagonismo dos materiais naturais.

“O trabalho da H2C foi como um ofício artesanal; eles agiram como verdadeiros escultores do projeto, moldando em uma conversa constante um espaço que realmente funciona para a gente. O resultado é essa sensação diária de que o ambiente respira, nos deixando à vontade para criar.”

Como a moradora é artista, o pedido por uma galeria itinerante e um pequeno ateliê em casa tornou-se essencial. O estúdio pesquisou sistemas que evitassem danos às paredes e encontrou um suporte especial que permite alternar obras com facilidade, um recurso raro em projetos residenciais e que se tornou assinatura do apartamento. A personalização avançou também para os vitrais criados exclusivamente para o projeto, com desenhos e cores escolhidos pela moradora, inspirados no “germinar das sementes”. A luz que atravessa o vidro âmbar cria reflexos sutis e quase meditativos ao longo do dia.

A vista, ampla e aberta para o horizonte paulistano, também ganhou papel estrutural no projeto. O layout foi minuciosamente desenhado para enquadrar a cidade como um quadro vivo, um contraponto poético ao silêncio interno. Essa relação entre interior e exterior reforça a atmosfera tranquila que acolhe o casal todas as manhãs e funciona como um pano de fundo constante para a criação artística.

“Todos os dias percebemos o acerto do layout, pensado para enquadrar a vista com o horizonte da cidade. As janelas atuam como quadros vivos de uma forma muito natural. Ver o movimento da metrópole à distância nos traz uma calma inesperada, servindo de contraponto à tranquilidade que temos aqui. O horizonte se tornou um elemento da casa, um fundo para nosso dia a dia que expande a sensação de liberdade.”

O aconchego, porém, não se apoia apenas na luz. A marcenaria feita sob medida organiza a vida e o ateliê, enquanto a iluminação — natural durante o dia e cenográfica à noite — permite com que os ambientes se adequem a cada momento. Seja para destacar uma obra nova, para trabalhar ou simplesmente para relaxar, a casa responde com suavidade.

A presença do paisagista Bruno Moreno complementa a composição com texturas verdes, reforçando o caráter acolhedor e fluido da proposta. No conjunto, o apartamento se revela um espaço que respira e onde a arte muda de posição, a luz se transforma e o horizonte se torna parte do cotidiano. Um lar moldado para que a vida e a criatividade aconteçam com naturalidade.

“Apesar de funcionar como uma galeria para nossas obras, o que mais valorizamos é o aconchego e o conforto. Esse sentimento vem de coisas simples: do contato com os materiais naturais e da funcionalidade da marcenaria, que nos ajuda a organizar a vida e o ateliê. A iluminação é outro ponto fundamental; a luz natural é abundante e, à noite, o projeto nos permite criar o clima que precisamos, seja um foco em uma tela nova ou uma luz suave para relaxar. É a prova de que nossa casa se adapta a nós, versátil o suficiente para uma pequena exposição ou para o silêncio de um chá no fim de tarde.”