Apartamento com alma de casa

30 out, 2025 | Apartamentos, Acima de 200 m2, Cidade

Fotos: André Mortatti / Divulgação
Escritório: Passos Arquitetura
Paisagismo: Skygarden
Área: 256m²
Localização: Jardim Paulista, São Paulo

No coração do Jardim Paulista, o Apartamento Tatuí, assinado pela Passos Arquitetura, revela um novo olhar sobre o morar urbano. O ponto de partida foi ousado: criar uma varanda inexistente e, com ela, devolver ao espaço a presença da natureza, da luz e do vento. Entre o concreto e o verde, o projeto traduz o desejo de viver com o pé no chão, mesmo no alto de São Paulo.

A intervenção nasceu de um gesto poético e estratégico. Logo após a compra do imóvel, um novo edifício começou a erguer-se diante da janela, ameaçando a paisagem e o respiro que a vista proporcionava. A equipe da Passos Arquitetura respondeu a essa transformação urbana com um redesenho completo do layout, recriando um abrigo permeável e íntimo. A varanda, símbolo central do projeto, surge como uma espécie de refúgio suspenso, quase como um convite para desacelerar e respirar em meio à cidade.

O novo desenho rompeu com a planta tradicional, substituindo divisões rígidas por um fluxo contínuo de convivência. Estar, jantar, TV e cozinha se articulam de forma fluida, conectados por vigas aparentes que indicam funções sem impor barreiras. O verde invade esses espaços com naturalidade, costurando o olhar e criando um fio de continuidade entre dentro e fora. A varanda, aqui, atua como extensão emocional da casa: um lugar de pausa, contemplação e encontro.

“O desafio era transformar um apartamento convencional em um refúgio urbano com alma de casa, onde o verde, a luz e a brisa fizessem parte da rotina.”

Inspirado na arquitetura japonesa, o projeto incorpora o conceito do shakkei, ou “cenário emprestado”. A copa do flamboyant vizinho se torna parte da composição, como se o apartamento respirasse a paisagem do entorno. A passagem entre os ambientes é quase ritualística: do hall ao tsuboniwa (o pequeno jardim interno) até a varanda, o percurso é uma sucessão de respiros e descobertas, que convidam o morador a desacelerar.

A estrutura de paricá aparente substitui o forro convencional e desenha o teto com leveza e intenção. As ripas embutem luz e som, compondo uma atmosfera cálida e silenciosa. O resultado é uma casa que fala baixo, mas diz muito.

Na marcenaria sob medida, o cuidado se repete. O sofá central acolhe como um abraço, promovendo a conexão entre os ambientes. Já a mesa de jantar, com encaixes inspirados na tradição japonesa, flutua entre rigor e delicadeza. Esses detalhes, longe de serem meros adornos, revelam o caráter artesanal do projeto.