Renovação completa em apartamento dos anos 80
29 set, 2025 | Apartamentos, De 100 a 200 m2, Campo
Fotos: Ruy Teixeira / Divulgação
Escritório: Felipe Carolo
Localização: Campos do Jordão, São Paulo
Assim que topou reformar um apartamento em Campos do Jordão, o arquiteto Felipe Carolo teve a sensação de voltar no tempo. Toda a estética, o mobiliário, os objetos e eletrodomésticos permaneciam fiéis aos anos de 1980: geladeira, fogão, liquidificador, televisão… Até mesmo os bichos de pelúcia, as coleções de pantufas e as lembranças de infância das filhas, hoje adultas, ainda guardavam intacta a atmosfera de uma vida inteira. O desafio estava lançado: fazer a renovação dos espaços sem apagar a memória que se espalhava por cada canto do apartamento.
O espaço era impregnado por afeto, mas pedia atualizações para ser vivido com conforto. A cliente foi categórica ao pedir que nada fosse substituído em excesso: o desejo era restaurar, reformar e ressignificar, mas comprando apenas o essencial. Foi nesse limite que nasceu o maior desafio, e também o maior trunfo, do projeto.
“Este é um apartamento de campo concebido na década de 1980 e de uma família que o frequentou por muitos anos. Hoje, com as filhas adultas, a maneira de usar o espaço mudou, por isso fui chamado. Sabia que estava em um lugar com muito afeto envolvido, porém que pedia renovação para ser vivido com mais conforto hoje. E a cliente foi clara de início: você pode fazer o que quiser com os móveis: reformar, restaurar… Mas comprar novo, apenas o que precisar mesmo. Estava aí o meu desafio.”
O primeiro passo foi cuidar da infraestrutura: revisar hidráulica e elétrica, resolver a pouca água quente dos banheiros e preparar o apartamento para o uso contemporâneo. Em uma cidade de inverno rigoroso, esse era um ponto crucial, mas que consumiu grande parte do orçamento. Além disso, as paredes não tinham acabamento e precisaram ser emassadas integralmente antes que o décor pudesse ganhar protagonismo.
Outro dilema estava na televisão, ainda de tubo e apoiada em um móvel com rodinhas que precisava ser puxado para frente da lareira sempre que a família desejava assistir. Colocá-la acima da lareira não era uma opção. Por isso, a solução veio de um móvel desenhado pelo próprio arquiteto, versátil, contemporâneo e capaz de girar na direção desejada sem comprometer a estética da sala.
“O lugar principal ali é a lareira. Na hora de ver TV, era: puxar o carrinho! Não havia TV a cabo e nem internet no apartamento. E onde eu iria colocar a TV agora? Em cima da lareira, como fazem os americanos, de jeito nenhum! Então solucionei com um móvel que eu havia desenhado para a minha casa e que deu muito certo. Um móvel onde você coloca também a TV, uma TV contemporânea, e pode virar na direção que quiser, sem ter que puxar como era antes.”
Quase tudo foi mantido, mas sob uma nova luz. Os objetos de colecionismo e lembranças dos anos 1980 foram reorganizados para contar a história da família de forma intencional, como um acervo exposto. O processo de renovação foi comparado a um bordado: entre ajustes e escolhas cuidadosas, Carolo conseguiu harmonizar até seis tipos diferentes de madeira, equilibrando contrastes sem perder unidade. Na sala, o sofá verde musgo se tornou o protagonista, escolhido para traduzir o clima acolhedor da serra e reunir família e amigos diante da lareira. A iluminação, ponto solicitado pela família, ganhou delicadeza com globinhos de vidro em áreas de passagem e dois grandes plafons de tecido na sala, além da redistribuição de abajures em estilo inglês que já existiam no apartamento.
O apartamento foi definido pelo arquiteto como o mais bordado de sua trajetória: uma costura delicada entre passado e presente, memória e renovação, técnica e emoção. O resultado é um lar que segue sendo a cara da família, agora preparado para receber as próximas gerações com o mesmo calor de antes, mas com o conforto de hoje.
“Esse foi o mais bordado de todos os projetos que eu já fiz. A minha fidelidade foi não tirar a memória e o afeto desse espaço. Fui além do que estava habituado e, além de tudo, usei seis tipos diferentes de madeira. E consegui com que todas ficassem em equilíbrio e harmonia.”
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