Durante a nossa passagem pelo Recife para a cobertura da Fenearte 2015, mergulhamos de cabeça nas diversas expressões culturais da região e conhecemos lugares incríveis – matéria para um próximo post! Em nosso terceiro dia na cidade tivemos a imensa honra de visitar a mais extensa coleção de arte popular do Brasil, pertencente a Carlos Augusto Lira. Fomos muito bem recepcionados pelo arquiteto que nos guiou pelos corredores do enorme galpão enquanto nos falava sobre o carinho que nutre pelas mais de 5 mil peças que compõem o seu acervo.

SÃO PEÇAS INUSITADAS, NÃO EXISTE NADA IGUAL. ISSO É ARTE POPULAR!

“Eu fiquei anos atrás de um espaço”, conta o arquiteto, que via a sua casa e escritório tomados pela coleção em crescimento. Sem lugar para colocar todas as peças, ele começou a catologá-las e guardá-las em um container. “Eu ficava nervoso com isso”, relembra. Com a ajuda de um dos seus clientes, ele finalmente conseguiu encontrar um lugar para abrigar a precioso acervo – uma antiga madeireira desocupada – mas confessa: “ já ficou pequeno”.  

 

 

Toda essa história começou lá no Piauí. No início da sua carreira, enquanto fazia parte da equipe dos arquitetos Acácio Gil Borsoi e Janete Costa, Lira foi acompahar um obra em Teresina. À noite, passeando pela avenida Frei Serafim, deu de cara com um cruzeiro onde o povo pagava promessas. De lá ele surrupiou a sua primeira peça: um ex-voto. Hoje, o seu acervo de ex-votos conta com cerca de mil itens, incluindo alguns bem raros, feitos de barro e de pedra. Incrível, né?

 

 

Olha só a quantidade de ex-votos!!! Para quem não sabe, as peças são como presentes que os fieis oferecem aos seus santos de devoção para agradecer um pedido atendido ou renovar uma promessa.

 

 

O Piauí também apresentou ao futuro colecionador alguns dos seus  grandes mestres, como Expedito e Dezinho e foi lá onde ele comprou as suas primeiras peças. Lira também costumava viajar para cidadezinhas como Tracunhaém, atrás do trabalho dos artesãos. Atualmente, obras como carrancas, pinturas, escuturas, santos pernambucanos, ex-votos, mobiliário, utilitários e até mesmo objetos africanos preenchem todos os corredores, prateleiras e paredes do galpão.

 

O mais emocionante da coleção do Lira é a sua riqueza histórica, pois ela reúne obras produzidas em diferentes fases dos artistas. Assim, é possivel ver claramente a evolução técnica e estética de cada um deles. Realmente inspirador!

 

 

Peças de diferentes fases da produção do Mestre Nuca de Tracunhaém.

 

Fotos: Carol Colesanti