À primeira vista, uma parede de concreto aparente não é mais do que um elemento arquitetônico ou um detalhe estético em um projeto. Mas para a Fernanda Corvo o significado dessa estrutura vai além de sua função e visual. Ela simboliza momentos distintos da sua trajetória de vida e a vontade de ter uma existência mais fluída, se desdobrando em diferentes papéis de maneira criativa e espontânea. Achei a relação da Fernanda com o apartamento dela tão intensa e bonita que a convidei para participar do episódio desta semana da websérie que produzo junto com a Votorantim Cimentos.

Antes de falar da parede de concreto, vamos voltar um pouquinho no tempo… A Fernanda se mudou com a família para esse apartamento há quase seis anos. Na ocasião, ela vivia uma fase mais reservada e sentia a necessidade de ter ambientes privativos. Ela é mãe de dois filhos, o João de 10 anos, e a Olívia de 12 anos que nasceu com uma necessidade especial: “ela tem uma mutação genética desconhecida, então ela utiliza cadeira de rodas. Hoje, quando a gente pensa na casa, temos sempre que levar em consideração os espaços de circulação para garantir a ela mobilidade”, explica.

Quando a família foi morar nesse apartamento a Olivia ainda era pequena e demandava bastante atenção e cuidados especiais. O movimento na casa era intenso principalmente em razão do home care. Havia um entra e sai constante de pessoas e aos poucos a Fernanda começou a perceber que precisava ter um cantinho só seu. “Eu estava muito apegada a isso e o arquiteto tentou achar soluções criando espaços fechados à meu pedido”, relembra. A antiga moradora havia aberto um dos dormitórios para a sala criando um ambiente unificado, mas a Fernanda sentia falta de ter uma sala de televisão separada, onde os filhos pudessem brincar à vontade e a bagunça ficasse escondida dos olhares dos visitantes. Assim, ela resolveu fechar novamente esse quarto e decidiu aproveitar a parede divisória como um elemento decorativo. O concreto aparente foi o material escolhido por trazer ao projeto um toque rústico e ao mesmo tempo, urbano, características que condizem bastante com a personalidade da moradora.

Essa solução funcionou por alguns anos, mas aos poucos foi perdendo o sentido, principalmente depois que a Fernanda se separou. Ela é ceramista e naquela época estava produzindo bastante peças em casa, treinando as técnicas que aprendia nas aulas e desenvolvendo seu próprio estilo. Chegou a comprar um torno que foi parar lá na sala de televisão, o quarto onde a bagunça era permitida. “A sala era escura, fechada, e o processo da cerâmica fazia muita sujeira. Acabei levando o torno para a sala por sugestão da minha irmã. Ficou muito melhor, mas ainda assim sentia que faltava alguma coisa”. Foi então que a arquiteta Flávia D’Angelo entrou na jogada. De cara, ela sugeriu que o torno permanecesse no living, afinal, é uma parte significativa da personalidade da Fernanda. “A cerâmica é muito importante pra mim. Faz parte da minha casa, da minha vida e do que eu faço aqui dentro”. A segunda grande mudança aconteceu na parede de concreto que foi parcialmente aberta para que os ambientes voltassem a conversar e a sala de televisão deixasse de ficar tão confinada. Surpreendentemente, a estrutura antes segregadora, passou a simbolizar a união e a convivência.

“Eu queria integrar a minha família, não queria mais ficar separada de todos. Foi um momento pessoal que refletiu no entorno”. 

Estou amando conhecer mais da história da Fernanda Corvo e desse lar vivo e cheio de alegria, e você? Amanhã é dia de terminar o tour e conferir a entrevista que fizemos com a Fernanda e a Flávia! 

Fotos: Rafael Renzo